Entendendo os Impactos Negativos do TDAH e Benefícios do Tratamento

Descubra Como o Tratamento pode Mudar a Vida do Invidíduo e Evitar Consequências indesejadas do TDAH


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Dr. Samir Salim

2024 | Leitura: min

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O que é TDAH? Entendendo o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por padrões de desatenção, hiperatividade e impulsividade que são inconsistentes com o nível de desenvolvimento do indivíduo. Estudos globais estimam que o TDAH afeta cerca de 5,3% a 7,1% das crianças e 4,4% a 5,0% dos adultos, tornando-se um dos transtornos psiquiátricos mais comuns. Anteriormente, acreditava-se que o TDAH remitia na adolescência, mas agora é reconhecido que frequentemente continua na vida adulta. Mesmo que os critérios diagnósticos completos não sejam atendidos, sintomas residuais e debilitantes, consistentes com a remissão parcial, persistem em aproximadamente 65% dos casos. Além disso, sintomas e deficiências funcionais associadas demonstram flutuações ao longo da vida adulta em cerca de 90% dos casos.

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Explorando os Tipos de TDAH e seus Impactos: Uma Visão Detalhada

O TDAH não se manifesta da mesma forma em todos os indivíduos e compreender os diferentes tipos de TDAH é essencial para identificar as abordagens de tratamento mais eficazes e promover uma melhor qualidade de vida para os pacientes. Neste artigo, exploramos três tipos de TDAH: Predominantemente Desatento, Predominantemente Hiperativo-Impulsivo e o Tipo Combinado e as consequências do TDAH se não tratado e os benefícios do tratamento.

TDAH Predominantemente Desatento

Este tipo de TDAH é caracterizado principalmente por dificuldades com a manutenção da atenção. Indivíduos com o TDAH Predominantemente Desatento podem parecer sonhadores, facilmente distraídos por estímulos externos ou pensamentos irrelevantes e frequentemente perdem detalhes importantes em tarefas ou conversas. Esta forma de TDAH, anteriormente conhecida como Transtorno do Déficit de Atenção (TDA), pode ser menos óbvia do que as outras, pois a falta de sintomas de hiperatividade pode fazer com que passe despercebida em ambientes escolares ou profissionais.

TDAH Predominantemente Hiperativo-Impulsivo

Indivíduos com este tipo de TDAH exibem predominantemente comportamentos de hiperatividade e impulsividade, sem os marcantes problemas de desatenção. Eles podem ter dificuldade em ficar sentados, falar excessivamente, interromper os outros e agir sem pensar nas consequências. A hiperatividade e impulsividade são mais visíveis e, portanto, esse tipo de TDAH é frequentemente identificado mais cedo do que o tipo predominantemente desatento.

TDAH Tipo Combinado

O Tipo Combinado de TDAH é o mais comum e inclui sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade-impulsividade. Indivíduos com este tipo de TDAH enfrentam desafios significativos, pois os sintomas de ambos os aspectos afetam diversas áreas de suas vidas.

E se eu não tratar o TDAH? Quais as consequências?

O TDAH não tratado pode levar a uma série de consequências adversas e desafiadoras ao longo da vida, afetando o desempenho acadêmico, profissional e as relações interpessoais. Indivíduos com TDAH podem experimentar dificuldades significativas em mobilizar a atenção para tarefas que exigem um esforço mental considerável, resultando em procrastinação e uma tendência a evitar atividades desafiadoras, mas pouco estimulantes. A impulsividade, uma característica marcante do TDAH, pode provocar mudanças frequentes de emprego, bem como comportamentos de risco, como excesso de velocidade e uso de drogas.

A hiperatividade pode se manifestar como um turbilhão de ideias e uma incapacidade de relaxar o que contribui para a desregulação emocional, incluindo irritabilidade e explosões de raiva. Essas manifestações complicam o diagnóstico por poderem ocorrer também em transtornos depressivos, bipolar, de ansiedade e de personalidade que ocorrem mais frequentemente em pessoas com TDAH do que na população em geral.

Além disso, o TDAH traz dificuldade de organização, tendência a procrastinação, dificuldade de planejar e gerenciar o tempo perdendo com frequência prazos e aumenta a dificuldade em alcançar metas acadêmicas e profissionais. A longo prazo, estudos demonstram que adultos com TDAH não tratado têm níveis educacionais mais baixos, taxas de emprego inferiores e relações familiares mais instáveis, além de sofrerem mais acidentes, especialmente ao dirigir. Portanto, é de fundamental importância que os pacientes com TDAH procurarem tratamento uma vez que estratégias de tratamento adequadas podem reduzir significativamente o impacto do TDAH na vida dos indivíduos.

E se eu tratar o TDAH?

O tratamento do TDAH está relacionado a diversos benefícios como pode ser conferido abaixo:

Desempenho Acadêmico

O tratamento do TDAH tem demonstrado melhorias significativas no desempenho acadêmico de crianças e adolescentes. Um estudo revelou que o tratamento medicamentoso aumentou em cerca de 15% a quantidade de trabalho escolar concluído e em aproximadamente 14% o tempo de atenção em sala de aula. Embora os efeitos diretos sobre as notas e pontuações em testes padronizados sejam pequenos, o uso de longo prazo de medicação está associado a melhorias nestes aspectos acadêmicos. Isso sugere que, além da medicação, intervenções focadas em habilidades práticas e funcionais como atenção, habilidades organizacionais, regulação emocional e habilidades acadêmicas explícitas são cruciais.

Trabalho

O tratamento do TDAH desde a infância demonstra impacto significativo na trajetória ocupacional de adultos, com uma associação direta entre o tratamento do TDAH na infância e menores taxas de desemprego na vida adulta. Além disso, o início precoce do tratamento medicamentoso com estimulantes está correlacionado com maiores níveis de emprego, destacando a importância do diagnóstico e tratamento precoces para fomentar uma trajetória ocupacional produtiva.

Acidentes, Lesões não Intencionais e Direção

O tratamento farmacológico do TDAH demonstrou reduzir significativamente a ocorrência de lesões não intencionais e acidentes de trânsito tanto em crianças e adolescentes quanto em adultos. O uso de medicamentos para TDAH está associado a uma diminuição em uma ampla variedade de lesões, incluindo traumas cerebrais, em comparação com indivíduos com TDAH que não estão medicados. Um estudo longitudinal sueco destacou que a taxa de acidentes de trânsito graves era 58% menor em homens adultos medicados para seu TDAH, sugerindo que pelo menos 41% dos acidentes poderiam ser evitados com o tratamento medicamentoso. Tratamentos para o TDAH também melhoram o desempenho na condução, frequentemente após apenas algumas semanas de tratamento. Isso destaca a importância de considerar os benefícios de segurança funcional do tratamento para pacientes que podem estar em risco de lesões ou acidentes de direção.

Mortalidade

Estudos tem mostrado benefícios significativos em reduzir a mortalidade e o risco de tentativas de suicídio com a diminuição do risco proporcional ao tempo de tratamento prescrito entre indivíduos com TDAH.

Comprotamento Sexual de Risco de Gravidez Precoce

O tratamento do TDAH com medicação tem sido associado a uma menor probabilidade de comportamentos sexuais de risco em adolescentes, evidenciando um impacto positivo na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez antes dos 20 anos de idade.

Uso e Abuso de Substâncias

O tratamento do TDAH com medicamentos, especialmente os estimulantes, tem levantado preocupações históricas sobre o risco de abuso e mau uso particularmente em indivíduos com TDAH e transtorno de uso de substâncias (SUD). No entanto, estudos subsequentes desafiaram essas preocupações, demonstrando que medicações de longa duração, tanto estimulantes quanto não estimulantes, para o TDAH não causam nem exacerbam os SUDs. Na verdade, a medicação para o TDAH pode reduzir o risco de desenvolvimento de SUD e auxiliar na recuperação. Análises retrospectivas em larga escala validaram a falta de correlação entre a medicação para TDAH e SUDs, com alguns estudos indicando uma redução significativa na taxa de eventos relacionados ao abuso de substâncias durante o tratamento farmacológico ativo do TDAH.

Embora os medicamentos estimulantes sejam geralmente seguros para populações saudáveis, eles carregam riscos de segurança cardiovascular aumentados em pacientes predispostos. Contudo, revisões sistemáticas não encontraram associação consistente entre o uso de estimulantes e preocupações de segurança cardiovascular, especialmente em crianças e adolescentes. Interessantemente, a atomoxetina, um tratamento não estimulante para o TDAH, apresenta uma probabilidade de abuso menor e demonstrou reduzir o número de dias de consumo excessivo de álcool.

Crimes

Estudos recentes destacam que indivíduos infratores com TDAH tendem a reincidir não apenas mais frequentemente, mas também mais rapidamente do que aqueles sem TDAH, evidenciando um link crítico entre os sintomas atuais de TDAH e o comportamento criminal. Curiosamente, é o TDAH atual, e não o histórico de vida, que afeta o número de novas ofensas, apontando para a importância de controlar os sintomas e deficiências atuais para mitigar comportamentos criminosos. A medicação para TDAH, aplicada em ambientes carcerários, mostrou melhorias significativas nos sintomas do TDAH, e estudos indicam uma redução considerável na criminalidade durante períodos de medicação, tanto para homens quanto para mulheres, sem uma diferença significativa entre estimulantes e não estimulantes.

Sono

A relação entre o sono e o TDAH é complexa, especialmente devido ao uso de medicamentos psicoestimulantes como terapia de primeira linha para o TDAH. Embora os psicoestimulantes promovam a vigília e possam levar à insônia, também foram relatadas melhorarias do sono em algumas crianças e adultos com TDAH. Estudos indicam que o tratamento com metilfenidato pode resultar em diminuição do tempo para adormecer, aumento da eficiência do sono e melhoria nas sensações subjetivas relacionadas ao sono, sem alterar outros parâmetros como o sono REM ou o número de despertares. Por outro lado, tratamentos não estimulantes, como a atomoxetina, têm mostrado resultados promissores na melhoria do sono em comparação com os estimulantes. Assim, é recomendado cautela ao atribuir insônia aos psicoestimulantes, mesmo porque há comorbidades frequentes no indivíduo com TDAH como, por exemplo, a ansiedade que podem contribuir para alterações do sono.

Conclusão

O tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um tema de crucial importância, destacando-se no debate sobre saúde mental e qualidade de vida. Diante dos tipos variados de TDAH - Predominantemente Desatento, Predominantemente Hiperativo-Impulsivo e o Tipo Combinado - a escolha de tratar (ou não) pode ter implicações significativas na vida acadêmica, profissional e social dos indivíduos. Estudos indicam que o tratamento adequado do TDAH pode resultar em melhorias notáveis em diversos aspectos da vida do indivíduo como desempenho acadêmico e ocupacional, redução de acidentes, do comportamento sexual de risco, do abuso de substâncias e do risco de cometimento de crimes. Assim, é essencial o diagnóstico precoce e inicio do tratamento por um médico especialista.

Bibliografia

  • Weibel, Sébastien et al. Practical considerations for the evaluation and management of Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) in adults. Encephale, 46(1), 30-40, 2020.
  • KOSHELEFF, Alisa R. et al. Functional Impairments Associated With ADHD in Adulthood and the Impact of Pharmacological Treatment. J Atten Disord, [s.l.], v. 27, n. 7, p. 669–697, maio 2023.